quinta-feira, 19 de abril de 2012

Abrigo

Afinal o que esperava do mundo? Esperava que a felicidade batesse na porta, com um sorriso largo pela manhã, como quem traz a alegria em uma bandeja com frutas e café... Esperava que o céu estivesse azul na hora do riso, e cinza quando fosse minha hora de chorar! Esperava entender mais sobre a vida e que esse entendimento não me aterrasse, esperava em meu pessimismo encontrar a esperança. Admito que sonhei com o vento do mar a me beijar a face e com a lua a incendiar a cidade junto com os carros e os postes, sonhei que a poesia suspendia o pesar, sonhei encontrar a mulher amada e com ela viver e morrer! Sonhei em ser sábio e construir meus passos no mundo, sonhei com o discernimento dos livros, as certezas dos olhares, os sorrisos das crianças e as casas de varandas floridas com cachorros esparramados na calçada!

Sonhei que era capaz de não me ser... Sonhei que minhas forças seriam o suficiente para abrigar minha vida, sonhei que minhas mentiras enganariam o pesar de meus olhos! Sonhei com o belo disfarce de quem esconde a dor no peito, sonhei que a dor era pura imaturidade e que um dia estaria desperto e feliz.

Envelhecer indica o término da espera. O grande desafio é não perder a capacidade de sonhar, mas deve ser admitido que os sonhos, quando encharcados de realidade, cada vez mais perdem sua característica onírica e passam a se tornar meros planos, objetivos sem a beleza da ilusão de quem acredita na vitória... Não sei bem se este pesado espírito é o mais indicado a escrever sobre isso, não sei bem se a dor em meus ombros e o pesar em meu peito me credenciam a escrever sobre o que quer que seja, se o medo que encerra meus olhos não cega minha alma a ponto de me impor à escuridão, escrevo portanto como fuga de minha condição de quem apaixonou-se por um sonho mas que agora se recusa a adormecer.

2 comentários:

  1. Ainda deve haver uma tola esperança esquecida na escuridão de nosso ser. O que resta ao homem talvez a maturidade de entender que o seu sonho é só seu e que ninguém sonhará com ele ou como ele. Nossos sonhos são tão individuais quanto nossa própria alma e justamente por isso tenhamos no processo perdido o encanto destes, por não entender que eram particulares demais para termos a presunção de achar que o mundo sonhava igual.

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    1. Muito legal a consideração(e correta!). Valeu(de verdade)!!!

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