sexta-feira, 27 de abril de 2012

Andarilho


Acordei com uma sensação insone, a mercê de minhas necessidades citadinas. E está na contagem dos dias cada vez mais difícil de, apenas com estes argumentos, enfrentar o rodar da ampulheta... Será que existem almas sobre este mesmo chão que não se aperreiam?(Termo cearês aqui empregado remetendo-se à angústia francesa) Almas que, bem colocadas em seus postos, ali permanecem felizes e satisfeitas. Claro que há sempre a possibilidade deste esmero pela suntuosidade das paixões ser mero deleite da pouca idade, claro que o passar dos anos pode vim a aterrar esta preocupação desmedia com a essência das coisas. Mas hoje me incomodo quando sob minha ignorância sou obrigado a suportar a falácia disfarçada de brilhantismo, a sacanagem disfarçada de inteligência, o orgulho disfarçado de vítima... Reforço que este sentimento é despendido unicamente por minha condição de medíocre necessitado de suportes morais, pois caso assim não fosse pouco me importaria com as falácias que tanto me afetam e com a ausência de ideal que parece permear tudo o que reluz nestes tempos modernos.

Poucas escapatórias me restam quando sofro de tais afecções, tanto é que sou capaz de listá-las sem muito sacrifício: Uma paixão, um bom livro, uma cerveja, uns amigos, uma crônica! Estas são as válvulas de fuga por onde meu espírito sai quando se torna alvo de meus monstros (estes sim, incontáveis!). Nestas horas também me serve lembrar-me de meu descompassado berço, de onde vim e onde semearam em mim “essa incrível saudade”. Filho messejanense da união da praia e do morro, criança de poucos sorrisos, estudante das ruas armadas e das praças vagabundas, pescador marginal de marginais, angustiado dentro de um quarto sem paredes... Eu, quando este que já fui, era merecedor de glórias! Sabedor de minha condição e pouco interessado em ultrapassar os grilhões que não sentia, ciente de meu lugar no mundo e sem dispor da mínima importância de qualquer outro lugar que fosse. Ah, que saudade sinto de mim! Da época em que o “meu mundo era mais mundo e todo mundo admitia”...

Hoje apenas resta-me uma esperança de tudo e um medo do nada... E qualquer coisa escrita a mais seria mentira...

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