quinta-feira, 29 de dezembro de 2011

Rei Moribundo - 2011



Me perdi das horas, dos dias da semana, me perdi entre os cabelos das mulheres, entre os olhos da cidade, entre os corpos que amei, me perdi entre os relatórios, entre os sonhos, entre as canetas e as pernas... Me perdi de minha família, de meus pais e de meus amigos, me perdi em uma Fortaleza de fracos, dos planos fugidios e sublimes! Me perdi de quem eu era, de quem sou e de quem eu serei...

Abandonei meus faróis e perdi passos na escuridão, apostei em cavalos que não corriam por mim, em corações que não batiam por mim, em estradas que não eram as minhas! Quis viver antes da hora, quis morrer antes da hora, quis dormir o tempo todo... Quis o mundo e me achei senhor, mas depois encontrei a verdade do quarto bagunçado e da alma em chamas dentro de um corpo vazio! Quis ter tudo, fazendo do meu tudo um nada... E consegui! Agora na vida assemelho-me a qualquer mendigo de estrada, a qualquer cão de calçada, a qualquer coração a bater sem motivos!

Todos os objetivos fugiram de mim como uma cruz a fugir do diabo! E que lição deverá ser tomada dessa desventura? Como construir novos objetivos ou como destruir os velhos?! Há alguns dias sinto o peito vazio... Sinto que o ano me atravessou com várias agulhas, sem nenhuma intenção de morte, mas também sem explicar qual era a intenção...  Agora 2011 vai acabando como um rei moribundo que não consegue mais falar os motivos da guerra!

Talvez isto seja a última coisa que escreva este ano, um ano delicioso e confuso, um professor de poucas palavras, um mapa pela metade, uma lição que deixou o aprendiz à própria sorte. Azarado aprendiz, sempre pensando que seu azar no jogo lhe traria sorte no amor... Descobriu que  a “sorte” não existe!

segunda-feira, 19 de dezembro de 2011

Boa Noite


Saí antes que ela desse “boa noite”... Por um lado por querer me mostrar forte e por outro por não querer parecer fraco e apesar destas duas sensações aparentemente se remeterem, na verdade elas nascem de sentimentos totalmente diferentes!

Queria me mostrar forte para fazer ela sentir o quão “maduro” sou, para não deixar escapar o quanto estou na sua mão... Saí porque sabia que qualquer palavra que viesse à tona apenas demonstraria mais e mais minha necessidade de estar apaixonado, e não pretendo demonstrar isso de forma tão irresponsável comigo mesmo de novo, já amei muitas “mulheres da minha vida”, talvez por inexperiência, talvez por mediocridade, talvez por fraqueza... Fato é que hoje não sou mais tão temerário, e disso surge “não querer parecer fraco”!

Se de um lado parecer forte tinha como intenção fazer com que ela me sentisse assim(ou seja, eu tinha ela como alvo), por outro não querer parecer fraco era a minha forma de não esquecer as dores que meu peito já sentiu (ou seja, eu me tinha como alvo). “Não parecer fraco” é uma tentativa de “não parecer fraco para mim mesmo”! É lembrar-me a cada instante que algumas cicatrizes, mesmo já curadas, deformaram e endureceram um pouco minha pele. É repetir mil vezes o mantra “não seja tão irresponsável consigo”.

Meu natural sempre foi me lançar! Sempre foi experimentar a infame esperança de que dará certo, e sempre deu tão certo que completou todos os ciclos: Teve início, meio e fim!

segunda-feira, 12 de dezembro de 2011

Espelho Meu

O que será que refletiria no espelho se acaso minha alma pudesse ser captada? Qual seria a imagem a estampar o vidro caso nele estivesse contido minha verdadeira essência? Será que todas as minhas exclamações de “me conheço” cairiam por terra? Ou seria confirmado que meus monstros já me são familiares? Seria interessante ter a absoluta certeza do que a história, o mundo, as pessoas e eu mesmo fiz comigo! Identificar afinal quais são as verdadeiras peças que compõem esta figura tão insólida...

Nasci de ventos que passaram e de seus rastros apenas os ecos ficaram para contar histórias esquecidas! Nasci por entre ruas e árvores, entre carros e carroças, entre a praia e o sertão, entre o céu e a cidade... Nasci de minha mãe, de meus amigos, de minhas surras, nasci de minhas vitórias e de minhas mortes! E em todas as vezes fui deixando pedaços para trás, como quem abandona um estorvo que nada mais era que parte de si.

O número de meus nascimentos equivalem ao número de minhas mortes, e não cometerei a pieguice de afirmar que a cada fim houve um "recomeço”! Algumas marcas trago no corpo e na alma até hoje, e sei bem que me acompanharão até os vermes, mas não é bem isso o que importará, pois quando for olhar o espelho estas marcas de minhas quedas serão a minha verdadeira face, serão meu diferencial... Minhas cicatrizes são o que me torna, o que me lembra quem eu sou! No espelho serão as cicatrizes de minha alma e as rugas de meu rosto que irão me desenhar. E apesar de toda a brutalidade com a qual escrevo isso e toda a figura corcunda que parece surgir, esta é minha melhor “poesia”.

domingo, 11 de dezembro de 2011

Bem Aventurados


O ato de escrever ocorre em mim como uma gripe mal curada, mas não sinto-me como o corpo gripado, na verdade reconheço-me mais no vírus insistente! O que busca a todo modo permanecer no corpo afim de causá-lo alguma enfermidade, há apenas uma diferença óbvia neste processo, eu, ao contrário do vírus, infesto minha alma desta vontade não como quem semeia a doença, mas sim como quem busca a dádiva! Sempre afirmo isso, “escrever é a forma mais mentirosa e funcional de fazer com que o homem sinta-se Deus”, percebendo nesta descrição não uma possível heresia, mas sim uma necessidade de me encontrar “imagem e semelhança”.

Ser humano (como ação do indívíduo em tentar ser) é a maior comédia já inventada, pessoalmente me sinto como o ramister que esqueceu de parar de correr e continua dando voltas e mais voltas dentro de sua gaiola. Como ser humano? Qual o trajeto programado para objetivo tão tortuoso e tão cobrado? Amar, viver, crer, sentir, morrer, sofrer, cair, levantar, cair, levantar, cair, levantar... Fazer tudo isso como se esta fosse nossa natureza impermeável e mesmo assim passar a vida inteira se perguntando “será que era isso mesmo que devia fazer?”. Bem aventurados serão aqueles que encontrarão as respostas nas revistas e bancas de jornais, aqueles que saberão desde seu nascimento quais as verdades do mundo, aqueles que irão sorrir ao lembrar de nossas perguntas idiotas! Nossa geração procriará desejos efêmeros e irá colher seus vendavais de chumbo, mas nunca mais seremos algemados, roubarão nossas almas antes de tudo... E nunca, em toda a história da humanidade, o fim esteve tão perto, e nunca, nesta mesma história, ele fez tão pouca diferença!