As luzes me iluminam enquanto eu atravesso a praça principal! Vou caminhando como se a estrada e os passos fossem minha única saída, única chance de pensar em mim sem que meus medos possam me devorar... Andar me faz bem, o cansaço, as luzes da cidade e dos carros que passam vão me enfeitiçando, então me recordo da imensa necessidade de também dar passos a meus sonhos, dar passos as necessidades de minha alma! Desistir agora seria remeter minha existência à insignificância, e não posso permitir que isso aconteça, por todos... E talvez por mim também.
Nestas horas é que a vida nos mostra o quanto não sabemos lidar com ela. Pra começar não podemos desistir, mesmo não sabendo que caminhos seguir! Depois não podemos errar mais de três vezes (é burrice!), mas, ou ninguém fala qual é o caminho certo, ou todos indicam um caminho diferente, ou seja: Você fica perdido de um jeito ou de outro!
O ápice da sandice existencial é andar perdido! Aprendemos que quando perdidos o melhor a fazer é ficar parado para que alguém nos ache, mas a vida não nos permite este luxo! Ela nos empurra, ameaçando passar por cima caso não nos mexamos, e o pior, quando ainda assim permanecemos no nosso sagrado direito de não querer "ir e vir" por aí, o que nos encontra parado quase sempre é o que menos precisamos, ou o que mais odiamos. Então ficamos com apenas duas opções: caminhar sob a ferrenha imposição da vida, ou permanecer parado no canto da estrada com um imenso estorvo sobre nossas costas!
Fico me sentindo em um daqueles programas idiotas de plateia, onde um otário precisa realizar uma gincana sobre brinquedos infláveis. O programa representa meu mundo, o otário no caso (obviamente) sou eu, a plateia são todos que me cercam, e o apresentador é a própria vida a me empurrar e rir da minha cara. O apresentador (a Vida) começa o programa falando:
— Bom dia telespectadores! Hoje temos aqui mais um laranja (Eu) tentando pagar suas dívidas bancando o palhaço! Mas hoje ele pode ficar milionário, basta que ele ultrapasse nossa piscina de água escaldante, depois salte sobre o precipício, caminhe sobre braças e desvie das flechas em chamas! Mas não é só isso, ele também deverá responder a 12 perguntas durante a prova e terá que acertar todas elas sem mentir, sendo honrado e justo!!!! Então?! Será que ele vai conseguir???
Aí a câmera foca a pessoa que me acompanha (que aqui representa todos que gostam de mim), ela está com a cara aflita, roendo as unhas, nervosa... Aí o apresentador fala:
— Mas vocês sabem! se ele (no caso eu...o Laranja) cair vou lançar aviõezinhos de cem reais para a plateia!
Agora a pessoa que estava torcendo(se) por mim some sob uma plateia ensandecida, armada com pom-pons coloridos e gritando:
— Cai!!! Cai!!! Cai!!! Cai!!! Cai!!! (laranjada! Laranjada! Laranjada...)!!!
Me sinto exatamente neste momento, corro ou fico? Tento ou não? O que seria pior, desistir ou arriscar ser humilhado? Será que consigo? O toque de largada soa em meus ouvidos, tudo fica em "câmera lenta", olho em direção a plateia e diante de tantos pom-pons quase não enxergo quem torce por mim. Olho pro apresentador ( a Vida) e ele está sorrindo, sarcástico, quase consigo ler seus pensamentos:
— Que otário! Mais um pensando que é o último, e tantos vieram, e tantos virão... Mas pelo menos diverte a plateia!
Paro! Me concentro no caminho e... E... Ih... Xiii... Me perdoem... Mas essa crônica fica sem continuidade! Aos 23 anos não sei se pulo ou se fico...
P.S: Dedicado a honorável Karol...
A vida não imita a arte. Imita um programa ruim de televisão.
ResponderExcluirPaulo Leminski