quinta-feira, 2 de dezembro de 2010

Dois, Dez, 2010


Hoje o céu de Fortaleza está nublado, com uma cor cinza que parece só pertencer a esta cidade perdida no meio do globo. Como se um mar, baixo e calmo, estivesse sendo refletido no espelho do céu. Aqui em baixo, sobre o asfalto indiferente, continuamos nosso trabalhoso exercício de seres humanos, os únicos (semi) conscientes entre o céu e o inferno.
Nestas horas, onde a noite parece se alongar dentro do dia e as almas escapam um pouco do calor do sol, se deixando mornamente a escutar velhos sambas e relembrar velhas paixões. Sem amarguras! Mas apenas com a deliciosa sensação de nostalgia do que nunca aconteceu, do beijo que nunca provou os lábios desejados, do corpo que nunca encontrou descanso no colo da mulher amada. Nestas horas me demoro em minha alma, e alimento meus monstros... Lembro a eles o quanto são importantes e descartáveis. Obviamente devo admitir que todo este existencialismo romântico e paradoxal deve ser regrado em medidas homeopáticas, ou o sujeito entra em um túnel depressivo onde o cinza vai ficando cada fez mais escuro, aí a armadilha da depressão assola a alma e vamos perdendo a essência do que somos pela sombra do que nunca existiu.
Estava conversando com uma velha amiga e perguntei se esta melancolia me é perene ou meramente artificial. Sua resposta, declarando que sempre fui assim, aliviou um pouco minha alma. A sensação de que a expiação é criada de forma mentirosa buscando apenas sofrimento não me agrada nem um pouco. Prefiro este sentimento de companheirismo com o céu, onde na verdade estamos eu e ele a relembrar antigos amores e a bebericar juntos a brisa do Atlântico mar, e quando mais tarde o sol voltar a radiar suas cores vamos à praia dançar com as ondas.
Eu vou queimando esta dor no meu peito enquanto não posso sarar. Num dia dois de dezembro de 2010.

Marcos Levi Nunes

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