sábado, 4 de dezembro de 2010

A Sombra e o Espelho

O que restará depois de nossas lutas? Quem dirá nossas bravuras quando já não houver mais inimigos para que possamos combater? Quão vã são nossas batalhas!!! Devia entregar-me ao deleite da vida e não permanecer lutando contra mim mesmo, ao final, nestas lutas sempre me sinto mais derrotado que vitorioso...
Pateticamente permaneço em minha angústia semi-artificial! Devia estar a me preocupar com os problemas sociológicos do mundo, escrevendo algo de importante e reflexivo, ou ao menos sair desta maldita masmorra pra tomar um banho de sol... Ao contrário, mantenho um desejo inacabado em meu peito e uma vontade a martelar em minha cabeça: “Como será o dia de amanhã?”. E a pergunta me cobra o valor da alma pela resposta. Jazo, portanto, inerte sob sete palmos de concreto enquanto não decido que caminho tomar. Manter minha alma íntegra ou mutilar-me em busca de uma resposta que talvez nunca queira escutar... Acabo concordando que “toda dor vem do desejo de não sentirmos dor!”.
Poderia vencer a complacência que me mantêm trancafiado, sair por esta porta e desafiar o Sol! Dizer-lhe que a Lua sempre me foi mais interessante, que este brilho que me ofusca não esconde sua fraqueza e ele que vá com suas fraquezas para que o Diabo o carregue. Combater o bom combate contra o espelho, se debater contra as grades do próprio corpo até que todas as vidraças estejam quebradas e os estilhaços estejam todos manchados de sangue sobre o piso branco, só aí, quando todas as paredes que me prendem e sufocam minhas forças tiverem ruído frente a minha revolta, poderei enfim afirmar que sou um homem livre dos meus próprios demônios...
Fugir de mim, vencer-me e finalmente me ver como outro... Melhor talvez.

"Eu apenas me perdi. Todo rio que tentei atravessar... Toda porta que testei estava trancada!
 Estou... Apenas esperando o brilho se apagar..."(Lost - Coldplay)

Marcos Levi Nunes

quinta-feira, 2 de dezembro de 2010

Dois, Dez, 2010


Hoje o céu de Fortaleza está nublado, com uma cor cinza que parece só pertencer a esta cidade perdida no meio do globo. Como se um mar, baixo e calmo, estivesse sendo refletido no espelho do céu. Aqui em baixo, sobre o asfalto indiferente, continuamos nosso trabalhoso exercício de seres humanos, os únicos (semi) conscientes entre o céu e o inferno.
Nestas horas, onde a noite parece se alongar dentro do dia e as almas escapam um pouco do calor do sol, se deixando mornamente a escutar velhos sambas e relembrar velhas paixões. Sem amarguras! Mas apenas com a deliciosa sensação de nostalgia do que nunca aconteceu, do beijo que nunca provou os lábios desejados, do corpo que nunca encontrou descanso no colo da mulher amada. Nestas horas me demoro em minha alma, e alimento meus monstros... Lembro a eles o quanto são importantes e descartáveis. Obviamente devo admitir que todo este existencialismo romântico e paradoxal deve ser regrado em medidas homeopáticas, ou o sujeito entra em um túnel depressivo onde o cinza vai ficando cada fez mais escuro, aí a armadilha da depressão assola a alma e vamos perdendo a essência do que somos pela sombra do que nunca existiu.
Estava conversando com uma velha amiga e perguntei se esta melancolia me é perene ou meramente artificial. Sua resposta, declarando que sempre fui assim, aliviou um pouco minha alma. A sensação de que a expiação é criada de forma mentirosa buscando apenas sofrimento não me agrada nem um pouco. Prefiro este sentimento de companheirismo com o céu, onde na verdade estamos eu e ele a relembrar antigos amores e a bebericar juntos a brisa do Atlântico mar, e quando mais tarde o sol voltar a radiar suas cores vamos à praia dançar com as ondas.
Eu vou queimando esta dor no meu peito enquanto não posso sarar. Num dia dois de dezembro de 2010.

Marcos Levi Nunes

quarta-feira, 1 de dezembro de 2010

BLASFÊMIA

Dorme bem, que aprenderei a velar teu sono a distancia! Dorme que minha alma que vagava reside agora nos teus braços e tu não mais estarás só! Serei teu porto quando a noite quiser roubar teu sossego, serei teu guardião do escuro como és minha estrela quando perdido me encontro sem rumo, e mesmo assim, sem futuro ao teu lado, este encontro sustenta minha vida, me faz um homem melhor! Mesmo que nunca venhas a ser minha e eu nunca possa ser todo teu, ainda assim seremos amados, pois sendo os corpos limitados, nossos espíritos se perdem a vagar pelas estrelas da noite, e de mãos dadas criam inveja para a pobre lua que sozinha apenas vislumbra o amor que nunca terá!

Me desculpe, sei que até estas palavras não são permitidas a um miserável que se perde nos olhos teus! Me perdoe pela blasfêmia de devanear sobre o que nos é proibido, apenas aumentando a vontade de romper o portão de tua casa indiferente ao que os outros vão achar ... Me perdoe por não ser sensato como és e prejudicar tua vida com meus furacões de abano! Mas o que faço? Como esqueço que naquele pequeno momento senti teu corpo junto ao meu? Como esqueço teu calor que esquentava meu frio coração? Como esqueço se sonho contigo muito antes de te conhecer? Queria poder me arrepender, dizer a todos que te odeio por tua cautela exacerbada. Mas seria a mais completa mentira! Ora, não foi tua sabedoria uma das virtudes que me conquistou?

Como poderia não te querer agora pelo que antes era exatamente o fato que mais me encantava em todo o universo?
Queria poder ser o homem da tua vida! Queria ser irremediavelmente quem traria ao teu leito a segurança de um companheiro! Queria que esta duvida fosse temporária e não teus abraços!

Mas não posso sequer querer... Quando me convencerei Deus? Quanto tempo é necessário para que um homem esqueça uma mulher por quem está loucamente apaixonado?!

Marcos Levi Nunes