sábado, 27 de novembro de 2010

AUTO RETRATO

Como que descobrindo minha alma do cinza véu mundano me percebo nem adulto nem adolescente, mas sim nesta fase juvenil de adultificação, onde nem reconheço minhas verdades nem consigo mais questionar, como outrora questionava as verdades que me ofereciam. Agora sou um indivíduo perdido entre os compartimentos da cidade, engavetado dentro de uma condição que me esqueceu aqui, como que permitindo minha imaturidade resiliente.  
E o eterno conflito em meu peito acontece em uma arena projetada pelo medo e a ânsia, pela ética e a complacência. E sobre este terreno se degladeiam meu Passado, meu Presente e meu Futuro. O primeiro grita como um fantasma trazendo à tona lembranças de velhos sonhos plantados que agora definham como flores secas. O segundo combatente se permite ao leve balançar entre a busca pela perfeição ou a entrega à sonolência cidadã. Enquanto o terceiro se limita a ver toda a balburdia para só depois intervir sobre os espólios que restarem. A platéia, extremamente dividida entre amigos, inimigos, trabalhos, projetos, amores e desamores, jogam ao mesmo tempo sobre os combatentes dejetos e flores. Esta é a cena de meu auto-retrato, e se tivesse sido me dado o dom das artes plásticas pintaria um céu cor de cinza (a mesma cor do véu de minha alma, que é juíza do combate e espera atenta para receber seu vencedor), e colocaria ainda algumas árvores decrépitas, com algumas maçãs ressecadas entre a arena e o público.
Esta imagem congelada poderia ser batizada com meu próprio nome, como que atestando sua veracidade em meu espírito. E ao término de minha obra, eu, sujo de uma tinta barata e fétida, beberia minha vodca sobre a amargura de me vê tão desnudo em cena tão mesquinha e tão verdadeira.

                                                                                                                           Marcos Levi Nunes

COMO SOMBA


Te vi como sombra sob a luz acessa. Te senti como vento que transita entre os cabelos da mulher amada. Te possuí como o último suspiro de uma vida curta...Como que pelo exato tempo de te tornar minha maior ânsia , meu maior desejo e minha maior falta,minha maior fraqueza e minha maior força!

Mas como? O que fizestes para marcar minha vida com teu fogo por um instante tão curto como aquele?O que faço com esta cicatriz? Com o quê eu posso sarar esta doença de minh’alma que tu infectaste com teu cheiro divino? Como fujo de tua lembrança injetada em meu sangue? Como rasgo tua tatuagem de minha pele? Como separo meu amor de teu corpo?Meu futuro de teus olhos??! Como vivo sabendo que fui teu e fostes minha por um segundo sequer...E nunca mais!!!

Marcos Levi Nunes