Como que descobrindo minha alma do cinza véu mundano me percebo nem adulto nem adolescente, mas sim nesta fase juvenil de adultificação, onde nem reconheço minhas verdades nem consigo mais questionar, como outrora questionava as verdades que me ofereciam. Agora sou um indivíduo perdido entre os compartimentos da cidade, engavetado dentro de uma condição que me esqueceu aqui, como que permitindo minha imaturidade resiliente.
E o eterno conflito em meu peito acontece em uma arena projetada pelo medo e a ânsia, pela ética e a complacência. E sobre este terreno se degladeiam meu Passado, meu Presente e meu Futuro. O primeiro grita como um fantasma trazendo à tona lembranças de velhos sonhos plantados que agora definham como flores secas. O segundo combatente se permite ao leve balançar entre a busca pela perfeição ou a entrega à sonolência cidadã. Enquanto o terceiro se limita a ver toda a balburdia para só depois intervir sobre os espólios que restarem. A platéia, extremamente dividida entre amigos, inimigos, trabalhos, projetos, amores e desamores, jogam ao mesmo tempo sobre os combatentes dejetos e flores. Esta é a cena de meu auto-retrato, e se tivesse sido me dado o dom das artes plásticas pintaria um céu cor de cinza (a mesma cor do véu de minha alma, que é juíza do combate e espera atenta para receber seu vencedor), e colocaria ainda algumas árvores decrépitas, com algumas maçãs ressecadas entre a arena e o público.
Esta imagem congelada poderia ser batizada com meu próprio nome, como que atestando sua veracidade em meu espírito. E ao término de minha obra, eu, sujo de uma tinta barata e fétida, beberia minha vodca sobre a amargura de me vê tão desnudo em cena tão mesquinha e tão verdadeira.
Marcos Levi Nunes
Marcos Levi Nunes